sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Um elemento da genialidade alemã.

O bom autor não exprime apenas a força e a nitidez de suas frases, mas persegue constantemente seus próprios conceitos. De resto, encontra na incerteza também muito encanto, e no ocaso dos equívocos a marca de sua superioridade.  Foi assim que Hegel trabalhou a ''estranheza'', com sua arte de falar à maneira de um homem embriagado  sobre as coisas mais austeras e frias. No grande reino da embriaguez, esta arte foi possivelmente a maior descoberta da cultura alemã. Um elemento da genialidade alemã. Por isso, levamos ela também conosco, a todas as alturas do pensamento humano onde só se pode penetrar munido de tais virtudes, a voluptuosidade e o desejo do álcool tão grosseiros quanto refinados. É à isto por sinal que se deve também o poder sedutor da música alemã. Para que exista o fazer e o contemplar estético é imprescindível essa condição fisiológica: a embriaguez. Ela intensifica todos os compartimentos da máquina e sem ela não se chega de fato à arte alguma. Todos os tipos de embriaguez.A embriaguez que segue todos os grandes apetites, todos os afetos intensos. Sobretudo a embriaguez dos movimentos extremos, influenciada por certas condições meteorológicas. A embriaguez da circulação sanguínea e a embriaguez de uma vontade acumulada, de plenitude e intensificação de forças. É a partir desse sentimento que se pode idealizar as coisas em alto nível. Mas livremo-nos aqui de um certo preconceito liberal: a ''idealização'' não consiste, como geralmente se acredita, em tirar ou subtrair o que é pequeno, secundário. O decisivo, antes , é um colossal transbordamento dos traços principais, de modo que os demais desaparecem. 

K.M.

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