sexta-feira, 21 de abril de 2017
A CULTURA DA INTERNET (MANUEL CASTELLS)
27 de março de 2015
Cartoon Crowd, Internet User Group
A cultura da internet, por Manuel Castells apresenta e discute quatro culturas que fundaram a Internet: cultura tecnomeritocrática (acadêmica), cultura hacker, cultura empresarial e contracultura libertária. Hoje em dia é possível identificar características dessas culturas nas práticas vinculadas à Internet e também nos discursos que, ao circularem socialmente, ajudam a construir o que imaginamos e nossa visão sobre a tecnologia no mundo atual.
Castells retoma a história da Internet desde a formação da Arpanet no final de 1960, mostrando como ela surge de um projeto do Departamento de Defesa norte-americano que, com o objetivo de superar a tecnologia soviética, criou, em 1958, a Advanced Research Projects Agency (ARPA) para desenvolver uma rede interativa de computadores. De acordo com Castells, “a cultura hacker […] diz respeito ao conjunto de valores e crenças que emergiu das redes de programadores de computador que interagiam online […]” na modificação do software, aprimorando o sistema operacional da Internet. A cultura hacker tem como base uma concepção “tecnomeritocrática” fundada na busca por excelência e melhoria do desempenho tecnológico.
É preciso ter liberdade para criar, se apropriar do conhecimento e redistribuí-lo na rede. Sendo assim, a liberdade constitui um valor fundamental para a cultura hacker. A formação de redes iria se tornar um padrão de comportamento habitual na Internet, e que vem sendo disseminado em diversos setores da sociedade. Há ainda uma análise acerca da cultura empresarial que se difunde na Internet, na qual ideias inovadoras e criatividade aparecem como valores essenciais.
Castells analisa a cultura da Internet ressaltando a importância da abertura do código-fonte para o aperfeiçoamento dos softwares da Internet, além de tratar da cultura hacker, evidenciando que, apesar de ter influenciado valores e hábitos da cultura da Internet, a tradição acadêmica, baseada na busca por prestígio e reconhecimento dos pares, foi aliada aos valores dos hackers, especialistas na programação e interconexão de computadores que desempenharam um papel relevante no desenvolvimento da Internet. o autor retoma a problemática da criação da Internet, mas numa perspectiva cultural, relacionada com os produtores e utilizadores da Internet, esclarecendo que, a cultura da Internet encontra-se diretamente relacionada com o seu desenvolvimento tecnológico.
O autor deixa claro que a Internet não é uma simples tecnologia de comunicação, mas o centro de muitas áreas da atividade social, econômica e política. Por este motivo, a Internet se torna um grande instrumento de exclusão social, reforçando a divisão entre pobres e ricos, existente na maior parte do mundo. Mas, por outro lado, a Internet, funciona como um meio onde as pessoas podem expressar e partilhar as suas preocupações e esperanças. Desta forma a Internet tem potencialidades quando implica e responsabiliza os cidadãos informados e conscientes dos problemas existentes na sociedade, na construção de Estados mais democráticos, levando a uma sociedade mais humana e menos voltada à desigualdade e à exclusão social.
Manuel Castells conclui que a Era da Internet traz novos desafios para a humanidade. Desafios que estão relacionados com a instabilidade no emprego, a deterioração do meio ambiente, a necessidade de regulação dos mercados e direcionamento da tecnologia, as desigualdades, a exclusão social e a educação. Castells critica o sistema educacional atual, sustentando que, na sociedade em rede, seria preciso instituir uma nova pedagogia, fundada na interatividade e no aprimoramento da capacidade de aprender e pensar. Contudo, apesar de ser visualizada como um desafio para a sociedade em rede, a questão da educação não é um tema central do livro, como o próprio autor reconhece na introdução. Esta lacuna não chega a atingir a riqueza de dados históricos e informações acerca da Era da Internet, fundamentais para as áreas da Sociologia, da Economia, da Administração, da Política e das Ciências da Computação.
Post Scriptum
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