domingo, 23 de abril de 2017
Objeto comercial: fluxos, fogos e massas.
O objeto privilegiado neste espaço é a produção e o consumo das mercadorias. A ''economia '' é de certo modo a geometria ou a cartografia do espaço aberto pelo comércio generalizado. Mas para pensar a si mesmo , este espaço não pode se contentar em desenhar as variações e os percursos da moeda, dos bens e das pessoas. Deve igualmente poder apreender o mundo acelerado, caótico, incerto que descobre a desterritorialização da economia. Os objetos do espaço mercantil não são portanto apenas os da economia, mas tbm tudo o que se difunde, escoa, flutua, transforma-se e perde-se, tudo o que alimenta suas máquinas e gira em seus circuitos. É dessa forma que a termodinâmica, ciência das transformações da energia, nasce no século XIX entre os fogos e vapores da Revolução Industrial. Acompanhando o desenvolvimento das telecomunicações, das mídias hertzianas e das máquinas eletrônicas, o século XX elabora uma teoria da informação, pensada a partir da circulação dos signos nas redes técnicas. Os processos de codificação, de decodificação, de tradução, a luta contra o ''ruído '', que fica de tocaia e destrói as mensagens nos canais da comunicação, são os grandes problemas que a ciência atual tenta resolver. Para a teoria matemática da informação , assim como para a cibernética, a medida da quantidade de informação transportada por uma mensagem é inversamente proporcional à probabilidade de surgimento de tal mensagem. Segundo essa definição, a quantidade informação será máxima se a mensagem for totalmente aleatória ----- o que, evidentemente, vai de encontro ao senso comum ----, ao passo que se aproximará de zero se a mensagem for muito redundante, se pouco contribuir para reduzir a incerteza no que tange ao estado do universo de referência. A ''suposta '' informação se situará na maior parte do tempo ''entre o cristal e a fumaça '', entre a ordem redundante e o caos. A informação é assim apreendida a partir dos instrumentos matemáticos forjados para a termodinâmica ; em última instância, por meio de estatísticas e probabilidade. .. Já se comentou bastante entre os estudiosos a analogia entre ''ruído'', que corrói, desorganiza e criva as mensagens, no domínio informacional, e a ''entropia '' , que mistura, apaga as distinções e anula as tensões, no domínio energético. Como o ruído n]ao é apenas destruidor das mensagens, mas tbm criador de nova informação, a chave da auto-organização fica na passagem do nível energético ao informacional. Todas essas especulações (é bom dizer) acompanham a transformação econômica em curso desde a Segunda Guerra Mundial: as redes de comunicação dirigem a alocação das energias, a gestão dos signos comanda a produção dos bens materiais. Mas tomemos cuidado... o que chamamos de ''teoria da informação'' é apenas uma abordagem matemática da transmissão e circulação de mensagens. Ela deu lugar a muitos refinamentos e transposições bem sutis. Com os instrumentos quantitativos, porém , e os conceitos que elaborou, não se conseguiu jamais, nem de longe, tratar a ''significação ''no sentido mais comum do termo . À medida que o espaço antropológico dos circuitos e das acelerações desterritorializadas se estende, a física se interessa mais pelos processos que pelas leis, mais pelos desequilíbrios que pelos estados. O caos determinista e os objetos fractais estudados pelas ciências da natureza fazem eco ao entusiasmo, aos comportamentos erráticos, aos elementos aleatórios que ocupam doravante o primeiro plano do mundo humano. Frequências, harmônicos, vibrações, gradientes, rugido de motores, mensagens, alto-falantes, gritaria da multidão nas ruas, anúncios, ruído de fundo, caos, alarido da mídia, Big Bang, grande antenas de captação voltadas para os confins do universo : assim como a Terra era táctil e o Território visual, este espaço, o espaço do objeto comercial, câmara de eco sintética, ressoa todos os sons do mundo.
K.M.
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