O escritor responsável, e especialmente o poeta, é alguém que se encontra numa relação absolutamente paradoxal com a linguagem . É alguém que deve estar em perfeita harmonia com a história das palavras e dos recursos gramaticais. que ouvirá na palavra os ecos remotos e as sondagens profundas de suas próprias origens. Mas é tbm alguém que saberá ouvir e registrar as sugestões, as insinuações, as conotações, os significados alusivos e as associações familiares que vibram ao redor de toda palavra ( nesse sentido, o tom perfeito de Shakespeare e sua capacidade de audição da totalidade de certos campos semânticos continuam incomparáveis )Entretanto, ao mesmo tempo, o poeta estará quase desesperadamente consciente das injunções do código gramatical e lexical, das formas pelas quais a moeda em suas mãos acabou desgastada, desvalorizada ou degradada (por meio dos clichês)pelo uso universal. Por vezes, a frustração ou compulsão do ''make it new '' deflagrará experiências na invenção de palavras inéditas e até de um nova sintaxe. Em sua instância mais bem acabada e rara, o triunfo é só momentâneo. Comunicar, mesmo coma alta reverberação do poema lírico implica oferecer um acesso por meio de um a equivalência ou de uma paráfrase (mesmo que parcial ) , como num dicionário . Se o ato da elocução pretende ser inteligível , a ''linguagem privada '' deve tornar -se uma realidade lexical e compartilhada ----- daí a recusa de Wittgenstein do próprio conceito de privacidade linguística . O que o poeta almeja, como veremos, é uma novidade de combinações que sugerirão ao ouvinte ou à leitora uma auréola ou uma esfera iluminada de sentidos perceptíveis e de energia radiante ao mesmo tempo capaz de ser compreendida e de enriquecer (transcendendo ) o que já existe.
K.M.
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