sábado, 15 de abril de 2017

''Timeless moment ''

A passagem do universo em desencanto para a plenitude de nossas faculdades é o processo de erotização das coisas à nossa volta. Obviamente não se trata da fetichização do mundo , ou do desejo indiscriminado de que os objetos que nos cercam de repente tornem-se objetos da libido. O mundo erotizado vai além disso, e se mostra como uma emanação do princípio da vida. A imagem central desse mundo é o momento que se tornou eterno. No Fausto, De Goethe, quando o herói se realiza, invoca ao tempo ---- Demores um pouco; és tão belo (!) ---- , T.S. Eliot fala tbm, nos Quatro Quartetos, do ''timeless moment '', do momento fora do ''fluir do tempo '' . O mundo erotizado se abre e se resolve no êxtase da união. 

K.M.

9 comentários:

  1. Esse é tbm o caso da música ? Mais uma vez, é excepcionalmente difícil estabelecer as demarcações entre o domínio do neurofisiológico e o das convenções da cultura. É perfeitamente possível que a tonalidade, a resolução das dissonâncias ou retorno à dominante satisfaçam expectativas de ordem psico-somática. A grande maioria de nossas reações de reconhecimento parecem culturalmente programada. A aura emotiva atribuída por compositores e ouvintes a certos tons, certos acordes e certas cadências surgiria, nesse caso, como um dado histórico e só convencionalmente prescritivo ----o que parece ainda mais revelador é como os sons musicais e as notas que os transcrevem são essencialmente imediatos. Sons e notas sempre pertencem a um novo presente; são elementos de um domínio livre. ..

    P.S.

    A biblioteca infinita da fábula de Borges, na qual se encontram estocados todos os livros passados, presentes e futuros, representa tão somente o léxico absoluto e a gramática de todas as gramáticas em cujas palavras estão latentes todas as sentenças, todas as possibilidades combinatórias possíveis e todas as contingências. Toda comunicação é absolutamente histórica.A compreensão é o produto de definições e posicionamentos prévios. Nenhum de nós pode ''consultar '' uma cor ou uma nota musical para identificar nelas um sentido específico e singular. A casa do sentido já está excessivamente ''mobiliada'' (num grau ate muitas vezes irreal) quando procuramos usar as palavras certas.Os sons da fala disponíveis à laringe humana ---- energia visível e sorridente, acelerando as imagens em direção à uma nova luz...

    K.M.

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  2. As afirmações e pensamentos registrados são só a ponta microscópica de um iceberg que se oculta, insondável e maciço , sob a superficie da escritura.Muitas vezes me encontro dizendo coisas ''ontologicamente '' novas... ---- o trabalho de liberar os limites do discurso herdado para revelar percepções verdadeiramente criativas e inéditas é extremo em Nietzsche, seus escritos flutuam incessantemente à beira da poesia, alcançando dimensões líricas e epigramáticas continuamente combinadas com as limitações do prosaico. No próprio meridiano de sua missão, de seu oferecimento para o mundo daquilo que nunca havia sido pensado antes, Zaratustra se rebela contra a prisão da linguagem e o peso espiritualmente sufocante de seu passado léxico-gramatical. Mesmo a canção, por mais limites que supere, nunca será suficiente. Zaratustra deve ''dançar psico-magneticamente suas ''visões '' e audições '' esotéricas --- e um dosmotivos fundamentais na doutrina nietzscheana do Eterno Retorno consiste em seu reconhecimento de um componente de recorrência e fixidez mesmo no pensamento mais marcado pelo êxtase da união .

    K.M.

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  3. O que quer que seja primordial para o entendimento eas necessidades da condição humana, tanto em termos éticos quanto metafísicos, encontra-se invariavelmente além de qualquer expressão verbal ou escrita.Wittegenstein infelizmente não chegou a oferecer nenhuma descrição, mesmo vaga , de quais processos de intuição ou intuição intelectual e quais avanços comunicáveis sobre questões essenciais poderiam ser ''descobertos do outro lado da fala '' . Por outro lado, tais descrições dominam minha obra propriamente literária do começo ao fim . Talvez só naquele último tratado de Merleau-Ponty sobre o visível e o invisível um pensador tenha tentado ir mais longe após Wittgenstein e antes de mim. O mestre francês indica com tenacidade os encontros mudos entre o corpo humano e a facticidade pré-linguística do mundo. São encontros que descartam as suposições desgastadas, as circularidades condensadas na ''linguagem'' tal como a ''herdamos''...mas Merleau-Ponty não menciona nenhum exemplo desse ''silêncio fecundo'' ---- eu, por outro lado, menciono -os e frequentemente os mostro ,concebendo ciências inteiras sem ousar falar delas.

    K.M.

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  4. Na história da filosofia ocidental, como sabemos, foi Martin Heidegger quem realizou a mais radical subversão da linguagem na eminência do silêncio.

    K.M.

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  5. O relâmpago da simbiose entre a fala humana e a verdade originária do ser acabou suprimido por modos de articulação basicamente estéreis. O falso programa platônico e cartesiano da lógica transcendente e racionalidade mantém a linguagem e, portanto, , toa intuição potencial num estado de servidão. Para romper esses limites milenares, um nova linguagem se torna necessária; uma linguagem linguisticamente antinômica em relação a tudo que tem sido calcificado desde os pré-socráticos ---- embora existam alguns precedentes notáveis nas escolas místicas renanas, especialmente no estilo paratáxico de Holderlin

    K.M.

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  6. A LINGUAGEM DO JOGO CONSISTE NUM IDEAL PITAGÓRICO DE MÚSICA E MATEMÁTICA,EM CUJA RELAÇÃO COMBINATÓRIA SÃO LIBERADAS VERDADES NOVAS E GENUÍNAS E MAPEAMENTOS ATÉ ENTÃO DESPERCEBIDOS.

    COM ATENÇÃO, SEU

    K.M.

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  7. Uma ''ars combinatória aponta para a reinvenção do amor. A autoridade do contato privilegiado estende-se para muito além das regras de sintaxe.Nossa existência e nossa consciência são lançadas na linguagem.

    K.M.

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